SÃO CARLOS LANCHES

Desde que comecei a seguir a São Carlos Lanches no Instagram, há pouco mais de uma semana, por indicação da Nina Bastos, não houve um dia sequer em que eu não senti vontade de pedir um x-salada para jantar. As fotos são bonitas e deixam claro: não há como aquilo não ser uma delícia. Lanches prensados, como se fazia em Londrina, na minha adolescência, alface fresca e verdona, tomate em cubos (por favor, problematizem o tomate em rodelas cortadas na enxada, que sai de uma vez na mordida, zoa o lanche e derruba recheio na sua calça), maionese a rodo, batatas bonitas, ingredientes em proporções coerentes uns com os outros, segue lá que você entende (@saocarloslanches)

Pedi ontem. E não pretendo pedir nunca mais. Mas a culpa é minha. O lanche, como previa, é uma delícia, bem feitíssimo, hambúrguer prensado com ponto rosado, grande, a maionese verde é excelente, tá tudo lá. Porém, a São Carlos Lanches fica na Vila Mariana, a 7km aqui de Pinheiros e, como não tem espaço físico e não tenho carro para retirada, o jeito é pedir por delivery. Nos amenos 17 graus que faziam ontem, o lanche obviamente chegou frio, o pão deu uma umedecida e a batata entristeceu. Foi tipo um show do Guns com o Axl gordo – o tempo transcorrido tende a ser grande inimigo da performance.

É provavelmente o melhor lanche prensado que comi em São Paulo, o único feito com esmero, montado e embalado bonitão, comida com gosto de comida, o upgrade daquilo que antecedeu os food trucks feito de maneira muito mais acertada do que os food trucks que vimos na última década tentaram. Mas, pelos salgados R$16 reais cobrados de taxa de delivery (que, quando anunciou a “saída para entrega”, estava na Rua Augusta, o que me faz pensar que meu lanche ainda deu uma rodada boa pela cidade antes de chegar aqui, depois de 40 ou 50min), fui obrigado a chorar baixinho, resignado, e entender que feliz mesmo é quem mora perto da São Carlos Lanches e pode comer aquele x-salada em sua fase plena, como não tive a sorte.

GUILTY PLEASURE

Eu adoro hot dog safado feito em casa, com salsicha merda e pão de saquinho, maionese industrial, vinagrete e batata palha, mostarda. Umas duas vezes ao ano, peço pizza 4 queijos. Sou consumidor inveterado de coca zero. Meu doce favorito, que como de vez em quando, é o tristíssimo bombom Ouro Branco. Sabe do que eu também gosto? McDonalds. Quarterão com queijo e McChicken (2 por R$20,90), para comer na cama, vendo Globonews. Tá pouco? Bufê de churrascaria rodízio… pego quilos de maionese (mais de um tipo), palmito e agrião. Os guilty pleasures são muitos – e deliciosos. Até porque, tirando pipoca e frango xadrez, eu não nego muito fogo para comida. Até como os dois, mas tenho zero apreço.

Nesta pandemia, além de fazer lives embriagadas na madrugada (com mais público do que as da Maitê Proença), eu tenho cozinhado como nunca. Mas quando bate a preguiça ou a ressaca, o que não é tão raro, eu me torno um rato de Ifood e Rappi e Uber Eats. Comparo preços entre os restaurantes que estão em mais de um aplicativo (variam muito), faço simulações com os cupons, economizo burramente em itens que jamais deveria, aposto em restaurantes muito duvidosos. E foi assim que eu a encontrei, minha grande descoberta da quarentena, a musa da minha pandemia: a maionese de batata do Bier & Bier. Eu juro. Não consigo defender e recomendá-la sem dar uma risada meio amarela, que diz “não tô brincando, é boa mesmo”. Tem zero sofisticação, é só batata e maionese, uns 5 fiapos de cheiro verde para decorar (?), mais nada. Custa R$22,90, e vem um tolete suficiente para três pessoas, num isopor vagabundo.

No Bier & Bier, um barzão de comida alemã em que nunca pisei, ali na Avenida Sumaré, ela acompanha o Schnitzel de porco – que, é óbvio, não viaja tão bem. Mas tem um frango desossado e grelhado que chega melhor e alimenta batalhões, e também um Kassler, que é bem mais ou menos, mas viaja direitinho, dá para requentar sem muito prejuízo, e ainda está sempre em promoção, mas fica migrando de aplicativo. Vale comparar. O Kassler vem com péssimas batatas cozidas e chucrute, o frango vem com legumes. Mas eu peço para trocar pela musa. Nunca me negaram.

Eu só queria escrever isso mesmo: a maionese (salada de batata, batatonese, como você preferir) do Bier & Bier é daquelas coisas inacreditáveis, completamente deslocadas, e muito difíceis de contar pros outros. Dá vergonha. Mas é boa para cacete.